Plenário entendeu que senador quebrou o decoro parlamentar por manter relações estreitas com o contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira
O
plenário do Senado Federal decidiu nesta quarta-feira, em votação
secreta, pela cassação do senador Demóstenes Torres (ex-DEM-GO). Por 56
votos a 19, os parlamentares entenderam que o senador goiano quebrou o
decoro parlamentar ao manter relações estreitas com o contraventor
Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, que está preso desde fevereiro sob suspeita de comandar um esquema de jogos ilegais. Cinco senadores se abstiveram.
Essa
é a segunda vez na história que um senador é cassado na história do
País. Antes de Demóstenes, o senador Luiz Estevão, do Distrito Federal,
em 2000, teve seu mandato cassado pelo envolvimento no desvio de verbas
na construção do prédio do Tribunal Regional do Trabalho de São Paulo.

O senador Demóstenes Torres foi alvo de processo no Conselho de Ética por quebra de decoro parlamentar
Na
abertura da sessão, o relator do processo no Conselho de Ética, o
senador Humberto Costa (PT-PE), e o relator da matéria na Comissão de
Constituição, Justiça e Cidadania (CCJ), Pedro Taques (PDT-MT), tiveram
mais tempo e falaram por 20 minutos cada.
Em
sua fala, Costa contestou uma das frases que Demóstenes usou em sua
defesa na tribuna nos últimos dias: "Mentir não é quebrar o decoro
parlamentar". "Não é normal nem aceitável que se possa mentir ao
Parlamento e à sociedade brasileira", afirmou o relator.
Costa
também questionou a afirmação de Demóstenes, que disse não saber nada
sobre os negócios ilegais de Cachoeira, embora fosse amigo do bicheiro.
“A CPI dos Bingos indiciou Cachoeira por seis crimes (...) como alguém
da intimidade desse cidadão não poderia saber de suas atividades
criminosas? (...) se houve uma CPI que foi de conhecimento de todo o
Brasil, que amigo é esse que não procurou saber por que o amigo foi
indiciado por seis crimes?", disse.
Em
sua vez, Taques ressaltou que o rito legal foi respeitado e que
Demóstenes teve ampla chance de defesa durante o processo. "O senador
adotou conduta incompatível com o decoro parlamentar, ferindo de morte a
dignidade do cargo e a ética que se impõe", afirmou.
Caso Demóstenes: 'Não é agradável para ninguém', diz Sarney
Em
seguida, foi aberta a palavra aos senadores que quiseram se manifestar
pelo tempo máximo de 10 minutos. Todos fizeram discursos contra
Demóstenes, mas não puderam declarar o seu voto, que é secreto. Um dos
mais enfáticos foi o senador Mário Couto (PSDB-PA). "Hoje é um dia de
moralidade, sim, mas o País sabe que aqui não tem moralidade. O Brasil
inteiro sabe que não existe Senado e Câmara neste País. O povo está
dizendo 'me engana que eu gosto', é isso que o povo brasileiro deve
estar dizendo hoje de todos nós", afirmou o tucano.
Também
falou o senador João Capiberibe (PSB-AP), que assumiu o mandato no fim
do ano passado após uma batalha jurídica para não ser enquadrado na Lei
da Ficha Limpa. "O que impressiona é a impunidade de certos políticos
que circulam livremente por esse País como se nada tivesse acontecido,
protegidos pelo foro privilegiado e pelo corporativismo", afirmou
citando o caso do deputado e ex-prefeito de São Paulo Paulo Maluf, que
integra a lista de mais procurados da Interpol e pode ser preso se sair
do País.
Depois,
o senador Randolfe Rodrigues (AP), líder do PSOL, partido que ingressou
com representação contra Demóstenes, falou por 30 minutos. “A votação
de hoje é paradigmática, o que está em jogo não é a posição, não é a
conduta errônea de um senador da república, é sobre a credibilidade de
uma instituição centenária”, afirmou na tribuna.
Para
Randolfe, Demóstenes colocou o seu mandato a serviço dos interesses de
Cachoeira e isso é revelado em várias interceptações telefônicas da
investigação da Polícia Federal na Operação Monte Carlo. “Pelos
elementos dos autos, não há dúvida, podemos inferir que o representado
não mantinha com o senhor Carlos Cachoeira apenas relações pessoais.
Tinha, sim, relação de atuação na defesa dos interesses da organização
criminosa", disse Randolfe.
Veja imagens da sessão do Senado:
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Sua opinião, sugestão ou critica é muito importante!